Para conhecer o fenômeno da migração interna em terras brasileiras, a turma precisa aprender sobre o perfil da população e as interações culturais
PODER SULISTA Costumes gaúchos marcam o oeste do país por causa da migração dos anos 1970. Foto: Ronaldo Kotscho
Você provavelmente já recebeu alunos com esse perfil. Como abordou o assunto? Os livros didáticos geralmente resumem o conteúdo, apegando-se a estatísticas e aos destinos que ficaram famosos no passado. Mas isso não é suficiente para abordar as transformações que ocorrem na sociedade. "É uma pena, mas muitas vezes as características da migração, principalmente no âmbito cultural, são tratadas de forma improvisada na sala de aula", analisa Sueli Furlan, geógrafa da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Retorno e perfis solitários caracterizam o migrante atual
MARCAS DO SUDESTE Estabelecimento comercial em Rondônia mostra quem participou da colonização do estado. Foto: Irmo Celso
Conforme explica Fausto de Brito, demógrafo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o movimento de pessoas faz parte da dinâmica das sociedades. É normal, portanto, surgirem novos fluxos (veja o mapa abaixo). Atualmente, o movimento que mais chama a atenção é o de volta aos locais de origem. Muita gente, por exemplo, está deixando o Sudeste e voltando para o Nordeste: o crescimento do volume de migrantes nesse fluxo foi de 19% entre os períodos de 1995-2000 e 1999-2004. "É um retorno expressivo, nunca visto antes", diz Cunha. As hipóteses apresentadas para justificar esse movimento estão relacionadas à redução e terceirização do emprego na indústria no Sudeste, aos novos focos de crescimento econômico no Nordeste e aos programas de transferência de renda do governo federal.
Clique para ampliar Principais fluxos migratórios por grandes regiões do Brasil, de 1999 a 2004*. Ilustração: Sattu
Outra mudança é a do perfil de quem sai. Brito explica que antes a família toda migrava. Agora, quem deixa sua terra tende a ir sozinho. "Problemas de moradia, oferta de emprego e violência contribuem para isso", comenta. E as intenções também mudaram: o emigrante de agora almeja ficar fora o tempo suficiente para ganhar um bom dinheiro.
Em classe, você pode abordar essas questões a fim de que os alunos percebam como e por que tais mudanças ocorrem. A conversa pode ser fomentada por histórias de pessoas que migraram dentro do país (no passado e recentemente). Quando e de quais fluxos participaram? E o que as motivou a sair em busca de novas moradas?
*Fonte: FIBGE, PNAD 2004. Tabulações especiais NEPO/UNICAMP
Como ocorrem as interações culturais
SABORES DO NORTE No Sudeste, uma das marcas dos nordestinos é a casa do norte, que vende carne seca. Foto: Lalo de Almeida
O choque entre culturas muito diferentes pode implicar o isolamento dos migrantes, que se fecham em guetos, para se manter firmes em sua identidade ou se proteger de preconceitos.
Além de ajudar os alunos a identificar e compreender essas interações, é importante promover reflexões sobre discriminação. Questione os estudantes a respeito do próprio comportamento: eles têm amigos vindos de outros lugares? E os que são migrantes? Como se relacionam com a população local?
Outro ponto a ser trabalhado é a capacidade do migrante de imprimir transformações aonde chega. Os gaúchos são famosos pelo poder de 'reterritorializar', reproduzindo a paisagem do Rio Grande do Sul por onde passam. Nortistas e nordestinos se notabilizam por instalarem as casas do norte, lojas que vendem produtos típicos de suas regiões. "Esse poder se deve a muitos fatores, como a classe social, a força dos laços de identidade e o tipo de participação política", explica Rogério Haesbaert, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Migração não é sinônimo de problema social
SABORES DO SUL Na Bahia, a venda de erva-mate revela a presença de migrantes sulistas. Foto: Liane Neves
Via: Gente que educa
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