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sábado, 18 de abril de 2015

Conflito de civilizações

O Oriente Médio que o Ocidente insiste em enxergar em sua face mais real

Jorge Mortean*


Desmistificar o Oriente Médio tem sido uma tarefa árdua, geralmente reservada a grandes nomes do Orientalismo acadêmico, como o anglo-palestino Edward Said, ou o britânico Bernard Lewis, ou de grandes jornalistas especialistas na região, como o britânico Robert Fisk, ou o norte-americano Stephen Kinzer, com uma vasta experiência de campo.
Quando vivi por três anos no Irã, de 2009 a 2012, viajei extensamente por toda a região. Dos paradigmas que eu mesmo quebrei, o mais importante foi que, desde a descoberta do petróleo, a banalização de odaliscas, sultões e dos contos das mil e uma noites – até uma nova onda de fundamentalismo político baseado na deturpação do islã, nascido no mundo pós-Guerra Fria – toda essa nossa imagem do Oriente Médio em nada se reflete na realidade local, no cotidiano das pessoas que ali vivem, mas refletem o modo como nós, ocidentais, queremos enxergá-los: de acordo com nossos interesses políticos.
Ouso, então, oferecer outra versão: a de quem vive localmente e passou a enxergar o Ocidente com os olhos deles. Por isso, a partir deste ponto, rascunho cinco tópicos gerais que facilitarão a leitura desta conflituosa relação entre Ocidente e Oriente Médio.

COMO O OCIDENTE VÊ O ORIENTE?
Desde sempre, o Oriente é fonte de inspiração e conhecimento para o Ocidente. A escrita, o alfabeto, os números, as técnicas agropecuárias, a Astronomia, a Química, a Farmacêutica, a Geometria, a Álgebra, entre tantos outros campos científicos, tiveram suas milenares origens na região atualmente conhecida como Oriente Médio.
Enquanto a Europa era devastada por guerras intermináveis entre bárbaros, com a expansão do Império Romano, a região florescia com seus conhecimentos. Tudo estava muito calmo, até que Roma decidiu empenhar uma “guerra santa” (as famosas Cruzadas), em uma época na qual o Império Muçulmano vivia em grande expansão – majoritariamente muçulmano, sim, porém com uma pacífica convivência entre todos os credos que nele habitavam. Os ocidentais que logo viram um Oriente Médio decadente, após recuar, por conta das Cruzadas, e excluído do desenvolvimento mercantil-industrial que florescera na Europa – com superioridade em seu poderio militar e abundância financeira – agora se encontravam em posição política de subjugar todo o resto do mundo, incluindo eles, os meso-orientais.
Subjugar era mostrar a “inferioridade” de outras culturas e que os padrões mundiais deveriam ser aqueles ditados pelo Ocidente majoritariamente cristão. Cristão, sim, mas também colonizador, escravocrata, preconceituoso e usurpador.
A Europa, e logo os Estados Unidos, projetava sua nova sociologia e lógica mercantil no Oriente Médio, justamente na região que, séculos atrás, lhes servira de berço humanitário. Essa região havia “ficado para trás na História” e “deveria ser civilizada”.
De pronto, nasceram alianças com as elites de califados e monarquias, que se valeram da posição geograficamente estratégica para comandar o comércio e as finanças na encruzilhada do mundo.
Enquanto satisfazia as vontades europeias, o Ocidente docilmente lhes compensava com jantares suntuosos em Paris, desenhos do Aladim e sua lâmpada mágica nas telas de cinema, a tradução dos hieróglifos egípcios feita por arqueólogos britânicos, a propaganda do misterioso mundo faraônico e da grandeza da poesia persa.

PETRÓLEO: RECURSO VITAL, RECURSO MORTAL 
A descoberta das utilidades industriais veiculadas ao refino do petróleo só veio a reforçar tal ideologia: orquestrar golpes militares, forjar monarquias e estruturar elites pró-ocidentais. Atendendo às necessidades ocidentais, o pagamento seria feito prontamente, “em cash”.
França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos desenharam limites territoriais como quem rascunha um guardanapo após uma formatura de graduação, porém sem jamais esquecer seus interesses. As elites locais abarrotaram-se de dólares, tinham seus ícones culturais vendidos a preços exorbitantes mundo afora e eram convidadas a participar do jet set internacional. Entretanto, e o povo?
Foi aí que o Ocidente errou. Na oportunidade de promover igualdade de direitos, justiça social e senso democrático, as potências ocidentais acabaram perpetuando justamente o contrário.
Foi pelo ralo essa chance de melhora socioeconômica e estabilidade política e o que se viu (e ainda se vê) é o mesmo jogo: o Ocidente armando politicamente todos os lados – independentemente de qual – para seu proveito econômico, pagando “em cash”.
E as elites que ousaram desafiar a intervenção ocidental não foram poupadas – elas caíram no ostracismo, tiveram sua imagem demonizada e seus países sancionados. Vide a Revolução Islâmica de 1979, no Irã, que aniquilou o maior aliado norte-americano na região até então, o xá Reza Pahlavi, e instaura um regime não mais democrático, porém totalmente antiocidental.
Vide Saddam Hussein, outrora forte aliado ocidental, enforcado pelas mãos desses mesmos ocidentais, após décadas de isolamento político-econômico. Pior é a Arábia Saudita, que, mesmo até hoje uma grande aliada política norte-americana, é também uma das campeãs em desrespeito aos diretos humanos, propagando o terrorismo político aos seus próprios cidadãos.
As elites locais reproduzem o que há de pior daqueles ocidentais que os financiam em matéria de civilidade, copiando-os. Cá entre nós, nem França, nem Reino Unido, muito menos Rússia ou Estados Unidos, são santos em suas políticas externas. Aliás, vale dizer que não há mocinhos em relações internacionais.

E COMO O ORIENTE MÉDIO VÊ O OCIDENTE?
Do mesmo modo que, para o Ocidente, há duas visões antagônicas pré e pós-descobrimento do petróleo, para o Oriente Médio – essa divisão temporal é igualmente válida, dentro de sua percepção dos ocidentais. Antes do começo do século passado, num período antecedente ao surgimento da indústria petrolífera, o Oriente Médio sempre esnobou o Ocidente por ter nos emprestado grande parte da base do conhecimento científico que hoje dominamos e desenvolvemos, bem como lhes era incompreensível nossos conflitos de cunho étnico-religioso, visto que aquela região fora o berço de três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islã, nesta ordem, sendo estas duas últimas as maiores religiões monoteístas mundiais atualmente.
A paz que lhes fora arrancada com a chegada da tecnologia ocidental que fora incrustada em seu solo, em prol da exploração petrolífera, trouxe ao Oriente Médio tempos turbulentos.
Com britânicos e franceses e, posteriormente, norte-americanos, cravando suas garras nesse recurso energético tão vital e tão abundante naquela região, o Oriente Médio viu-se envolto em dois tipos de ranços com relação aos ocidentais: um na esfera da política local e outro com relação à população local.

As elites locais, criadas pelo próprio Ocidente, viram-se obrigadas, por manter a ordem política, a ceder seus recursos. Dentro dessa perspectiva, são obrigadas a tolerar o Ocidente dentro de seus territórios, utilizando tecnologias próprias para arrancar seu recurso, o que acabou gerando uma amarga tolerância.


"As elites locais, criadas pelo próprio Ocidente, viram-se obrigadas, por manter a ordem política, a ceder seus recursos."
Se, por um lado, o “petrodólar” é mais que conveniente, por outro, ele é humilhante em termos políticos. Posteriormente, a criação de Israel, a ocupação dos territórios palestinos e a expulsão daquele povo aos países árabes vizinhos foram fatores que terminaram por criar simultaneamente dois problemas políticos enormes.
Ficou claro que a inserção cirúrgica de Israel no mapa regional criaria não só uma gigantesca pressão socioeconômica dos refugiados palestinos sobre os recentes governos árabes que lhes acolhiam e que o Estado judeu seria, a partir de então, como também seria o termômetro na relação desses governos com o Ocidente – o ponto de barganha geopolítica que balancearia o preço da venda do petróleo, o atendimento das necessidades das elites locais e a barreira da intromissão e da intransigência ocidentais.
Pelo lado da população local, a corrida ocidental pelo petróleo levou à fragmentação territorial do Oriente Médio, o que rapidamente agitou de modo negativo a vida política naquela região, refletindo diretamente na convivência pacífica daquele povo, que, por milênios, fora caracterizado pelo seu belo multiculturalismo – e que muito se orgulhava dele.
Os novos desenhos das fronteiras, que lhes eram impostos pelo Ocidente, com a conivência das elites locais, começaram a separar etnias, religiões e línguas. Forjados nacionalismos impulsionavam campanhas por vezes genocidas – o que se viu foi, por exemplo, a matança deliberada de cristãos que viviam no Império Turco-Otomano, o retalhamento político da Península Arábica e a independência do Líbano, livrando-se do projeto pan-arabista da Grande Síria.
Em um jogo politicamente sombrio, na tentativa de livrar-se dos últimos judeus que haviam restado em seu território, a Europa cristã impulsionou a criação do Estado judeu no coração do Oriente Médio, abalando profundamente todo o equilíbrio multirreligioso que havia até então.
Judeus iraquianos, egípcios, iemenitas, iranianos, turcos, curdos, libaneses, sírios, entre muitos outros na região, que, por milênios, viviam pacificamente ao lado de cristãos e muçulmanos, foram muitas vezes forçados a emigrar para Israel e romper definitivamente seus fortes laços territoriais. Passaram, logo, a ser vistos com desconfiança; seus status passaram de um bom e antigo vizinho de bairro para um novo inimigo mortal.
Toda essa chama nacionalista que assim surgia alastrou-se em um incêndio descomunal: rapidamente, a população local foi tomada pela ira contra seus próprios governos, pois logo percebeu que não passavam de marionetes ocidentais extremamente tiranas e que em nada lhe representavam, ao contrário, separavam-lhe, causando infinitos problemas, e envergonhavam-lhe.
Tal dicotomia é tão forte, que a história política, desde então, não lhe perdoou: o banimento de movimentos sindicais e partidos opositores, a tortura seguida de morte de seus líderes, o exílio de líderes religiosos, entre outras artimanhas promovidas pelas elites locais, proporcionaram levantes populares.
Podem-se enumerar os exemplos mais marcantes: o golpe que abafou o movimento democrático iraniano em 1952, o surgimento do movimento separatista e a guerrilha curdos na Turquia e no Iraque, em 1960, a queda da monarquia afegã, logo também a iraniana, ambas nos anos 1970, o surgimento do radicalismo religioso no cerne da política paquistanesa nos anos 1980, os sete golpes militares na Turquia, que ocorreram entre 1930 e 1990, a tomada do poder afegão pelos talibãs, em meados dos anos 1990, a sistemática desmobilização da esquerda israelense entre 1990 e 2000, as solas de sapato da população iraquiana na face das estátuas de Saddam Hussein em 2003 e, mais recentemente, o levante popular que ficou conhecido como Primavera Árabe e a insanidade promovida pelo Estado Islâmico dado o vácuo de poder gerado em Bagdá.
Prova disso foi o fato que me pareceu muito curioso, enquanto vivia no Irã. Por onde eu andava, não importasse a classe social, as pessoas me diziam: “Minhas sinceras desculpas por esse governo. Olha só, você, estrangeiro, sendo obrigado a vestir calça neste calor infernal. Nós, iranianos, não temos nada a ver com este regime”. E essa foi a frase mais esclarecedora que escutei.

COMO O ORIENTE MÉDIO REALMENTE É? 
Sempre afirmo que não se pode compreender um país por sua política externa, que, geralmente, ressoa em generalizações preconceituosas na grande mídia internacional. Sabendo que as ações dos governos daquela região em nada (ou muito pouco) refletem a realidade do cotidiano popular em seus países, como, então, o Oriente Médio realmente é?
O Oriente Médio, portanto, é – e faz questão de ser – uma região muito acolhedora e apegada às suas raízes. Orgulhosos de sua sabedoria milenar, da sua privilegiada e extremamente estratégica localização geográfica e por ter sido berço do judaísmo, do cristianismo e do islã – esta última fé apresentando traços judaico-cristãos evidentes –, os meso-orientais apegam-se às suas mais antigas tradições.
Apesar de toda a intromissão ocidental e da tirania de seus governos, que geram problemas domésticos e regionais praticamente insolúveis, a população trata de seguir vivendo calmamente e do modo o mais pacífico possível. São povos milenares, com tradições antiquíssimas, que sabem recepcionar o outro, ocidental ou não, como ninguém.
O multiculturalismo, apesar de muitas vezes dançar de acordo o ritmo geopolítico regional, ainda se faz muito presente lá. No tocante às religiões, é inegável que o islã tenha o maior peso demográfico.
Ao contrário do que se imagina, a fé muçulmana é tida como a religião mais completa entre as demais monoteístas que ali surgiram, pois engloba vários elementos dos credos que anteriormente a influenciaram: o judaísmo e o cristianismo. São também sagrados ao islã figuras como Abraão, Moisés, Jesus, José e Maria.
Assim como as suas religiões-base, ela para nada tem elementos proibitivos, muito pelo contrário, também é uma religião libertária. O que o Ocidente reporta sobre a vida no Oriente Médio é apenas o reflexo das políticas de governos autoritários que deturpam a religião para dominar seu próprio povo.
"O Oriente Médio, portanto, é – e faz questão de ser – uma região muito acolhedora e apegada às suas raízes. Orgulhosos de sua sabedoria milenar, da sua privilegiada e extremamente estratégica localização geográfica..."
Há de se ter cautela ao analisar o islã, pois, em como todas as religiões, a sua prática também é flexível. Se, por um lado, ela é oficial em certos países, como Arábia Saudita ou Irã, onde é levada à importância de praticamente representar um sistema jurídico conservador, por outro lado, em outros países, essa religião passa quase despercebida.
Com isso, temos uma diversidade dentro da própria maioria religiosa: há o islã dos xadores do Irã e dos nicabes da Arábia Saudita, mas também há o islã da cerveja, das minissaias, das discotecas e dos biquínis nas praias, como Líbano, Turquia, Síria e Tunísia.
Com relação às minorias religiosas, egípcios cristãos coptas ainda computam quase 15% da população daquele país e têm grande influência nacional. Não faz muito tempo, o Bahrein escolheu uma cidadã judia para enviar a Nova York como chefe da delegação daquele país perante a ONU.

As minorias religiosas iranianas, tidas como “povos do livro” – a saber: zoroastristas, cristãos e judeus – equivalem a 5% da população atual (já foram 15% antes da Revolução Islâmica de 1979, o que levou muitos ao exílio) e seguem com sua infraestrutura comunitária (templos, escolas, clubes etc.), intacta e em pleno funcionamento, inclusive com direito a um assento permanente no parlamento em Teerã.
Israel, apesar de sua triste relação com os palestinos, acolhe membros da fé baha’í – perseguida pelo governo iraniano – e aloca membros da sua comunidade druza, de origem sírio-libanesa, em altos postos governamentais (o recente Ministro da Defesa é uma israelense druzo). Os próprios palestinos computam uns 10% de cristãos que formam uma comunidade muito bem educada e que também resistem à ocupação israelense – há quem diga que muitos palestinos cristãos, inclusive, eram peças-chave dentro da luta da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fiéis escudeiros de Yasser Arafat, nos anos 1970 e 1980.
Com todos os problemas entre Palestina e Israel, grande parte dos cidadãos israelenses é contra a ocupação e não veria problema algum em conviver com um Estado palestino. O reconhecimento israelense de um Estado palestino, sob essa ótica, selaria definitivamente a paz com todos os árabes e seria a chance de descanso israelense após décadas de conflitos.
O Líbano, embora tenha sofrido por quase duas décadas de guerra civil entre cristãos e muçulmanos (1975–1990), conseguiu restabelecer a paz e a tolerância e se vê hoje reconstruído.
Ainda assim, há muitas feridas abertas. Como visto anteriormente, o jogo político e o traço das fronteiras, feitos de forma arbitrária por uma elite corrupta, banhada pelo dinheiro ocidental, causaram uma reviravolta sociocultural em suas populações.

O PORQUÊ DO CHOQUE ATUAL DE CIVILIZAÇÕES
Resumidamente, creio que tudo o que fora citado até aqui carrega as razões do atual embate entre Ocidente e Oriente. Desde as Batalhas Greco-Persas e, logo depois, as Cruzadas, o Oriente Médio havia se ressentido com suas relações ocidentais, que até então eram prósperas – uma frutífera troca comercial.
A “derrota” financeira-tecnológica do Oriente para o Ocidente aguçou ainda mais esse ressentimento e ver-se dominado não foi nada agradável: logo veio a humilhação pela generalização de sua imagem tão plural feita pela Europa e pelos Estados Unidos. Colocavam-se em pé de igualdade países que nem sequer tinham alguma relação, como Tunísia e Paquistão.
É como se o Oriente quisesse comparar as sociedades brasileira e nicaraguense pelo fato de estarmos na mesma região geográfica (não quer dizer que não o façam, inclusive, muitos colegas nossos ocidentais). Um erro sem tamanho.
Quando problemas políticos começaram a surgir no meio da relação, sempre dominada pelo Ocidente, a imagem generalizada mudou. Antes mocinhos e bons amigos, agora bandidos, criminosos e terroristas. Antes, eram úteis, hoje, devem ser eliminados.
E toda aquela psicologia de guerra “a las Cruzadas” voltou: o Ocidente em campanha de guerra político-ideológica contra o Oriente. E o Oriente – melhor dizendo, a elite política – descontente em frente dupla (com o ataque do Ocidente e a revolta das classes mais baixas), acabara por retrucar as provocações ocidentais e se radicalizando também.
O clima é de total insatisfação: dos povos daquela região para com seus governos, dos governos para com o decrescente apoio ocidental e do Ocidente para com ambos. O que vemos, atualmente, é uma grande massa de emigrantes meso-orientais, que, a cada ano, aumenta mais, em busca de melhores oportunidades de vida e mais liberdade no Ocidente.
Sendo minoria no mundo ocidental, eles acabam sendo integrados de forma, muitas vezes, inadequada às novas sociedades, o que, por sua vez, acaba gerando conflitos xenófobos no Ocidente. Como é sabido, a Europa – destino de muitos desses emigrantes – não tem um passado glorioso quando a questão é a integração de minorias étnico-religiosas dentro de seus quadros demográficos.
Outros fatores também impelem para choque: a distância geográfica e as respectivas maiorias religiosas aguçam traços culturais inegavelmente muito diferentes. Aqui, no Ocidente, temos essa tendência cultural massificadora, pela qual o individualismo é a ordem do dia. Lá, não, o que se vê é cada vez mais um maior apego às raízes culturais tradicionalmente milenares e de forte cunho comunitário, portanto, mais reservado. E tudo o que é diferente choca. Resta saber, portanto, o que fazer depois desse choque: tentar compreender o outro ou sempre tentar se impor perante ele?
"Ao contrário do que se pensa, os governos ocidentais que têm estreitos interesses econômicos naquela região..."

Por mais que politicamente muitos países da região quase sempre estejam em estado litigioso, nada como a tradição arraigada e a esperança na convivência pacífica e tolerante para mostrar ao Ocidente que, sim, a população resiste e segue em frente, firme e forte.
POR QUE O OCIDENTE NÃO ACEITA O REAL ORIENTE MÉDIO?
Embora nós, ocidentais, só vejamos, a maioria das vezes, o que a mídia internacional propaga, o real Oriente Médio não é um total desconhecido do Ocidente. Ao contrário do que se pensa, os governos ocidentais que têm estreitos interesses econômicos naquela região entendem muito bem os quadros demográficos locais e como se dá a convivência entre os governos e as suas populações.
Esse conhecimento específico acaba se tornando uma ferramenta de intervenção cirúrgica com a qual governos locais são depostos ou impostos, ou impulsiona uma guerra civil antes inimaginável.
Assim sendo, o Ocidente não pode aceitar um Oriente Médio tolerante, pacífico e próspero. Interessa- lhes muito a agitação política, as tiranias, o empobrecimento social e esse duelo entre governos e suas populações, pois ambos os lados se desgastam e se enfraquecem. Desse modo, seu recurso mais valioso, o petróleo, fica estrategicamente mais exposto e barato aos olhos e bolsos ocidentais.

ROBERT FISK

O jornalista ficou famoso por sua cobertura do con ito israelo-palestino, mas cobriu a guerra civil do Líbano, iniciada em 1975; a invasão soviética do Afeganistão, em 1979; a guerra Irã-Iraque (1980- 1988); a invasão israelense do Líbano, em 1982; a guerra civil na Argélia; as guerras dos Balcãs e a Primeira (1990-1991) e a Segunda Guerras do Golfo Pérsico, iniciada em 2003.

SADDAM HUSSEIN 
Captura em 13 de dezembro de 2003 (na Operação Red Dawn), ele foi condenado por acusações relacionadas ao assassinato de 148 xiitas iraquianos em 1982 e foi condenado à morte por enforcamento. A execução de Saddam Hussein ocorreu em 30 de dezembro de 2006.

*JORGE MORTEAN é geógrafo formado pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Estudos Regionais do Oriente Médio. Pesquisador das relações diplomáticas entre a América Latina e o Oriente Médio, é também doutorando em Geogra a Política (USP) e professor do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

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