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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Resenha do Livro Por Uma Outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal



Na primeira parte do livro Milton Santos faz uma introdução geral dizendo que a globalização é uma fábula. Fala-se de aldeia global, encurtamento de distâncias, o mundo ao alcance de todos, mas localmente as diferenças estão aprofundadas. Para o autor estamos diante de uma ideologização maciça.  Para ele a globalização também é perversa para grande parte da humanidade, pois o desemprego aumenta, as classes médias perdem qualidade de vida, a fome e as doenças se instalam.  Tudo isso tem relação com a adesão a comportamentos competitivos deste processo de globalização.  Diante dessa situação Milton Santos pensa na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. A mistura dos povos, culturas e filosofias tende a enfraquecer o racionalismo europeu e a construir uma nova história.  

A segunda parte do livro procura mostrar como se deu o processo da globalização.  No final do século XX produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas de informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Os fatores que ajudam a explicar a arquitetura global atual são: a unicidade técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história. 

Na história da humanidade é a primeira vez que um conjunto de técnicas envolve todo o planeta, da qual o computador é uma peça central, permitindo surgir uma finança universal, principal responsável pela mais valia universal. Milton Santos chama de convergência de momentos a capacidade dessa geração de ter o conhecimento instantâneo do que acontece com o outro. A cognoscibilidade do planeta é a capacidade que o homem do período histórico atual tem de conhecer o planeta aprofundadamente. O motor único na história veio substituir os vários motores do período imperialista: o motor inglês, francês, alemão, etc no qual possuíam cada um ritmo que empurravam homens e máquinas, hoje todos são ditados por apenas um único motor universal.

Na terceira parte do livro o autor procura explicar porque a globalização é perversa. Ela é perversa porque é fundada na tirania da informação e do dinheiro, isto é, a informação que é transmitida à maioria da humanidade é manipulada e ao invés de esclarecer confunde. A tirania do dinheiro é a especulação financeira que move a economia, o dinheiro é o centro do mundo.A perversidade mostra-se ainda na substituição da competição pela competitividade, onde as empresas tentam a todo custo vencer seus concorrentes, esmagando-os e sem compaixão tomando seu lugar.  A globalização perversa também confunde o espírito dos homens fazendo com que os objetos se tornem coisas reais e se apresentam diante do homem com um discurso ideológico, convocando-o a uma determinada forma de comportamento.  A globalização perversa gera uma violência estrutural resultante da presença do dinheiro, da competitividade, cuja associação conduz a emergência de novos totalitarismos e a imposição de uma política comandada pelas empresas.

Na quarta parte do livro Milton Santos começa a falar sobre o território do dinheiro e da fragmentação. Para ele no mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novos contornos, novas características e novas definições. A eficácia das ações está estreitamente relacionada com a sua localização. Os atores mais poderosos se reservam dos melhores pedaços do território e deixam o resto para os outros.  Os territórios tendem a uma compartimentação generalizada onde se associam e se chocam com o movimento geral da sociedade planetária e o movimento particular de cada fração, regional ou local da sociedade nacional. Esses movimentos são paralelos a um processo de fragmentação que rouba às coletividades o comando do seu destino, enquanto novos atores também não dispõem de instrumentos de regulação que interessam a sociedade em seu conjunto.

Na quinta parte do livro o autor fala dos limites à globalização perversa.  A promessa de que as técnicas contemporâneas pudessem melhorar a existência de todos caem por terra e o que se observa é as expansões aceleradas da escassez, atingindo as classes médias e criando mais pobres.  A situação contemporânea revela três tendências: a primeira, uma produção acelerada e artificial de necessidades; a segunda, uma incorporação limitada de modos de vida dita racional; e a terceira, uma produção limitada de carência e escassez. Nessa situação, as técnicas, a velocidade, a potência criam desigualdades e, paralelamente, necessidades, porque não há satisfação para todos. Não é que a produção necessária seja globalmente impossível. Mas o que é produzido – necessária ou desnecessariamente – é desigualmente distribuído. Daí a sensação e, depois, a consciência de escassez, pois aquilo que falta a um, outro mais bem situado na sociedade possui.  Para Milton Santos o reino da necessidade existe para todos, mas de formas diferentes, uma para os “possuidores” e outra para os “não possuidores”.  Para os “possuidores” cabe a fuga à escassez, e como o processo de criação de necessidades é infinito impõem a eles um circulo vicioso com a rotina da falta e da satisfação. Quanto aos “não possuidores” viver na esfera do consumo é como subir uma escada rolante no sentido de descida, isto é, cada dia acaba oferecendo uma nova experiência de escassez.

Na sexta parte do livro Milton Santos conclui o livro propondo uma outra globalização, uma mudança radical das condições atuais, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem e não mais no dinheiro. A globalização atual não é irreversível porque o homem está descobrindo o sentido de sua presença no planeta e a mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica (emergência das técnicas da informação) e a mutação filosófica da espécie humana (capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e também do planeta).

Milton Santos consegue fazer com muita propriedade a leitura do mundo atual dito globalizado. A imposição feita pelo mercado tem gerado o aumento de necessidades do homem, excluindo “os não possuidores” e deixando infelizes “os possuidores” que quanto mais tem mais querem e no fundo não tem nada.  A partir do momento em que o “homem globalizado” se der conta da razão de sua infelicidade (o que já está começando a acontecer) a mudança dessa atual sistema ideológico ocorrerá. Cabe a nós como geógrafos e professores alertarmos a sociedade e nossos alunos sobre esse atual sistema perverso e propormos a mudança para um outro paradigma.

Enviado Por: Rogério Adriano Pinto
SANTOS, M. Por Uma Outra Globalização: Do Pensamento Único à Consciência Universal. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.





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